Na Tempestade…

Miranda – The tempest, J.W. Waterhouse (1916)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Até o sol se escondeu
ao ver estas nuvens,
negras nuvens,
aproximando, matando,
trazendo o medo.
Densas como as trevas,
com brilhos azuis
diabólicos, e estrondos
graves satânicos.

Traz consigo seis pontas:
no tridente da frente:
o ódio, a mentira e a avareza;
no tridente de trás:
o orgulho, a libertinagem e a soberba, que
impulsionam este trem, que
tem o dinheiro como combustível,
e expele pecado ao invés de fumaça.

Ao fundo escuta-se:
“vamos reparar o mundo!”
Mas consigo leva apenas miséria e morte.
Promessas vãs,
velas para deuses falsos.

Do outro lado,
outra tempestade se apresenta,
tão aterrorizante como essa.
Seus trovões pareciam terremotos,
e o granizo, que se desprendia do céu, parecia a ira divina.

Esse inferno em formato de fenômeno natural,
vinha com furor em minha direção,
como se o meu peito o alimentasse
e minha paixão o atraísse.
Suas nuvens tinham minha feição,
e seus ventos o meu cheiro…

Entre o inferno e a danação
me vejo horrorizado, aterrorizado,
em prantos e em desespero completo.
Não vejo mais luz, apenas trevas me rodeiam.
Não vejo mais fim, as eternas penas me rodeiam.

Pausa

Porém, entre esses demônios surge
a Luz do mundo,
a Cruz Santa.
a princípio seu resplendor me dói,
me cega e me afasta. Mas depois vejo
que é Ela minha redenção!

Na presença de seu fulgor
as trevas fogem fugaz,
os pecados padecem podres
e as tentações terminam em torpor.
Da cruz, seus braços estendidos
oferecem-me o morrer, para que eu possa viver;
oferecem-me o penar, para que eu possa me deleitar.

“Eu posso ver o trovão que
quebra em seu coração!”
“Eu posso ver através
dessas terríveis cicatrizes
em seu coração!”
“Você consegue ver que sem mim está perdido?”

“Eu sofri,
com aqueles que vi sofrer!”
“Eu morri,
com aqueles que vi morrer!”
“Mas todos vocês,
como eu, ressuscitarão!”
“Oh, Deus! Não permita que
Minha alma continue sendo como caliban;
mas que ela converta-se na razão iluminada.”
“Peço, que me envie um Ariel,
para que eu possa ter um auxílio
nessa terrível tempestade!”

Pausa

E, vendo essa luz poderosa,
as duas tempestades furiosas,
sabendo que seu fim se aproxima,
intensificam seus terrores,
aumentam suas forças,
suas máquinas infernais
passam a operar a todo vapor;
suas armadilhas são numerosas,
e suas enviadas, lúbricas ardilosas.
tapam o céu, para que seu olhar não vá acima;
abrindo as portas para seus horrores,
despejando cada vez mais
prazer, que se transformará em eterna dor…

Mas auxiliado por meu Senhor:
com a verdade
cingindo meu lombo;
a justiça como couraça;
nos pés,
o Evangelho da paz;
a todo tempo com o escudo da Fé,
o capacete da salvação e a espada do Espírito!

Se preciso for morrer,
morrerei!
Se preciso for sofrer,
sofrerei!
Através da Graça, bem-aventurado
serei!
Por isso, venham malditas tempestades!
Despejem toda desgraça que vocês tem,
pois a minha coroa e a visão beatífica me aguardam!

Então, agora munido da
Palavra viva, do Verbo Ensanguentado,
enfrento essas tempestades
com a fé, a esperança e a caridade infusas
pelo Espírito Santo!
E através do auxílio da Graça,
dada pelo Onipotente,
desenvolvo com diligência
minha salvação; em tudo
praticando a humildade,
a obediência, a paciência
e a castidade; praticando
em tudo a prudência,
a fortaleza, a justiça
e a temperança.
Para assim, gozar plenamente
da glória eterna que espera pelo bom combatente!

 

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