Brasil para cima, ou para baixo?

Em fevereiro de 2011, Olavo de Carvalho escreveu um texto chamado “Para cima e para baixo”1, onde constatou o resultado do estudo da História do Mundo: “Todas as épocas são iguais perante Deus”, citando Leopold von Ranke. O filósofo brasileiro evidencia que não é possível declarar o fracasso ou sucesso de um projeto ou instituição, a menos que ele tenha metas e cronograma estabelecidos. Assim, declarar que o mundo está se tornando um lugar melhor dispõe da mesma quantidade de provas que a declaração dos que entendem o exato oposto, o mundo está em decadência sem fim.

Olhando para pequenos projetos com metas fáceis de identificar e prazos pré-estabelecidos, a tarefa é fácil de ser realizada e só poder ser mal compreendida se o avaliador for tendencioso — ou burro. Avaliar a gestão do governo, por exemplo, é molezinha. O Governo Federal brasileiro assumiu um mandato de quatro anos com o objetivo de combater o crime violento e colocar as contas públicas em dia, essas eram as metas basilares do plano de governo de Jair Bolsonaro (motivo de o Posto Ipiranga ser o pilar de todo o plano de governo do PSL, e posteriormente o ex-juiz Sérgio Moro ter se tornado o segundo pilar), somando-se a elas a gestão da máquina federal, o que é próprio e “nada mais que a obrigação” de toda gestão.

O crime violento no Brasil não sofreu grandes alterações, até mesmo porque medir esse dado é algo bastante subjetivo quando se fala da percepção estatística nacional, sendo a percepção individual muito mais táctil. Sua cidade se tornou nos últimos dois anos mais segura? Conhecendo várias cidades do Brasil e conversando constantemente com moradores de diferentes regiões, o que eu vejo é que hoje temos a mesma realidade de dois ou quatro anos atrás, ou seja, o Brasil é um país inseguro como o é toda a América Latina. O Governo Bolsonaro tem adotado uma prática difícil de se entender: o combate ao resultado do crime sem a prisão dos criminosos. É comum o governo anunciar que apreendeu n toneladas de cocaína, mas não anuncia quantos traficantes foram presos; desmantelou um esquema de corrupção na CEAGESP, mas ninguém foi preso; irá refazer leilões de concessões para rodovias brasileiras pois as atuais administradoras não entregam o que foi firmado no contrato, mas não haverá penalidades para as mesmas.

Quanto ao ajuste fiscal, o Governo Federal terminou o ano de 2019 muito bem posicionado em suas metas. Dólar e juros baixos e emprego em alta; a ministra Teresa Cristina estava fazendo uma série de viagens e fechando vários contratos de exportação que faziam a turma do agro sorrir de orelha a orelha. Mas daí veio a pandemia… esse monstro global que colocou todos os países do mundo de joelhos, com exceção daqueles que não tem regime democrático e sim lideranças políticas, como as coreias, a Rússia, a China e o desconhecido continente africano, do qual só sabemos o que as agências da ONU que lá estão nos dizem (falarei sobre esse tema no próximo artigo). Acontece que hoje o desemprego está ridiculamente alto, em uma “realidade nárnica” onde as pessoas não trabalham mas recebem dinheiro público depositado em conta; o dólar está acima dos R$ 5 há mais de um ano(!); o Estado está falido pois como o mesmo não trabalha, antes parasita o fruto do trabalho do cidadão, não está tendo rendimento real algum, apenas números que os ministros e presidentes dos bancos públicos anunciam às gargalhadas nas lives presidencias (semana passada mesmo, o presidente da Caixa Econômica Federal comemorava os lucros recordes do banco público em plena pandemia, eu fico pensando se algum reles cidadão já está louco o suficiente para comemorar lucro de banco público).

Como diria Nelson Rodrigues, “o fracasso subiu-lhe à cabeça”. O Governo Federal já está tão caótico que passou a comemorar problemas, e apenas em um país onde o eleitor consegue votar, pagar o salário do político e ainda ser seu fã, é possível viver a situação infernal que se está vivendo no Brasil e não avaliar a gestão do Estado, ou avaliar bem. Ficará apenas o jargão “é isso. Ou você prefere o PT?”.

A primeira metade do Governo Bolsonaro teve um ápice de entrega de resultados no fim de 2019 — excelente no ajuste fiscal e medíocre na segurança pública; e está vivendo sua pior fase agora em 2021, com a economia aos frangalhos e a segurança pública à beira de rebeliões em presídios (os chefes do tráfico adoram se revoltar quando a política vai mal) e saques no comércio com a população desempregada e aterrorizada pela imprensa. Soma-se a isso a total desmoralização das forças policiais, que hoje não defendem o cidadão, antes o espancam… é fácil concluir que o Governo Federal está numa decadência insana, difícil é fazer algo em um país dominado pelo politicamente correto, onde o Presidente da República acredita que o tratamento precoce é a melhor solução mas não fala mais nisso por medo do STF.

 


1 O texto pode ser encontrado no livro “Breve retrato do Brasil” – Olavo de Carvalho, Vide Editorial.

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