Diário de Viagem – 26/10/2020

 

Lendo a História do Brasil, vemos frequentemente a ideia de resolução de problemas através da criação de leis.

No tempo dos inconfidentes mineiros (fim do século XVIII), a Coroa acreditava que as Minas Gerais continuavam jorrando ouro porém os mineiros surrupiavam tudo para si. Foi então que Martinho de Melo e Castro, primeiro-ministro em Portugal, criou uma solução bem prática: cobrar todo o ouro não pago por anos, com base em um cálculo tirado da cabeça do próprio Melo e Castro.

Impraticável, a derrama viveu o que viria a ser praxe no Brasil: leis que “não pegam”.

Após a redação de diversas Constituições Federais, o Brasil acumula cada vez mais borrões nas páginas da Lei Fundamental. A ideia de que um novo texto é por natureza melhor que um velho texto, faz um Rodrigo Maia parecer (e sentir-se) maior que um Rui Barbosa. Afinal, Rui Barbosa já morreu e o roliço vive.A vontade da população e a capacidade dos legisladores parecem ser fatores irrelevantes para o Congresso, a única pertinência é: “o ambiente é favorável?”.

E ambiente favorável significa simplesmente deputados e senadores em clima de paz. O problema (para nós) é que quando menino arteiro faz muito silêncio é porque está aprontando. Quando a Lista da Odebrecht se sente em paz, se prepare que vão mandar bomba — ou melhor, vão botarfogo.

Criar uma lei para resolver problema moral é fazer chá pra curar câncer. Engana o paciente e protela a cura ao dar a sensação de estar fazendo algo.

O problema do Brasil é moral, a Constituição idiota e prolixa reflete a mentalidade de um povo que não conhece nada de si mesmo mas na hora de falar, enrola muito bem.Em outubro de 2018 o povo brasileiro identificou o verdadeiro problema da nação: falta amor à Pátria e amor a Deus.

Neste momento, a Lista da Odebrecht ensaiar mexer na Constituição é arrumar pauta para 2021-22, e assim manter o paciente sedado até o próximo pleito.

Botafogo, Drácula, Alicate, Feia, Garanhão e cia precisam sair de Brasília antes de qualquer ação jurídico-administrativa. Em tempos onde limpa-se as mãos com álcool-gel antes e depois de apertar o botão do elevador para não contaminar o próximo, escrever uma nova Constituição com as mãos sujas de petrolão é digno da ironia lírica de um Machado de Assis, — que mesmo tendo criado uma Capitu de olhar oblíquo e dissimulado, não ousou registrar em tinta tão grande traição.

[ Caminho para Pato Branco, Curitiba. Passagem por Porto União ]

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