Virtude, Trabalho e Diversão

Tanto no poema “Embriaga-te” do poeta simbolista francês vivente do século XIX, Charles Baudelaire. Quanto na canção “O Violeiro” do músico baiano Elomar Figueira Mello. Temos referencia a três aspectos essenciais da vida: a virtude, o trabalho e a diversão.

Antes de começar a desenvolver o tema sobre cada um dos três, e suas respectivas importâncias. Gostaria de mostrar-lhes os trechos citados acima:

Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te.

Embriaga-te sem cessar.

De vinho, de poesia ou de virtude.”

Charles Baudelaire – Embriaga-te

Apois pra o cantadô i violero

Só há treis coisa nesse mundo vão

Amô, furria, viola, nunca dinheiro.

Elomar Figueira Mello – O Violeiro

Feita então esta ilustração para os senhores, creio que podemos iniciar a discussão em pauta. Afinal de contas, por qual motivo eu vejo uma ligação entre um poema simbolista francês do século XIX e um compositor baiano contemporâneo?

Bom, se fizermos uma leitura apressada não ocorrerá a nós que eles falam da mesma coisa. Contudo se observarmos mais minuciosamente, nos surpreenderemos com o fato de apesar da distância temporal, linguística, geográfica, de gênero etc… os autores abordam os mesmos temas: virtude, trabalho e diversão.

Mas por qual razão eu digo isso? Acredito que esta resposta seja razoavelmente simples.

Se lermos com mais atenção os dois textos, veremos que Baudelaire fala para nos embriagarmos com a virtude, com a poesia ou com o vinho. O poeta (profissão íntima das palavras, e que seu trabalho se resume a forma mais elevada de comunicação) escolhe três aspectos da vida como os mais importantes. Existem tantos outros, por que logo estes três?

Quem está habituado a leitura de poemas sabe que nada ali é por acaso. O autor não escolheu aquelas palavras por acaso, nem as colocou naquela ordem por coincidência do destino. Há uma hierarquia por trás. O poeta francês acredita que existem três coisas essenciais na vida: a virtude, a poesia e o vinho. Que inclusive estão organizadas em níveis de sacralidade. Sendo a virtude a mais sagrada, a poesia a mediana e o vinho o profano – contudo que ainda nos oferece uma centelha de sacro, na visão do autor.

Agora ao analisarmos a estrofe do poeta contemporâneo baiano, veremos que para ele, estas mesmas três coisas são as mais essenciais para a vida. São elas: o amor, a viôla e a furria. De maneira diferente, esta belíssima canção de Elomar Mello, está dizendo a mesma coisa que o poeta francês citado acima.

Para ele, o amor (a virtude), a viôla ( a poesia, ou o trabalho) e a furria (o vinho, ou a diversão). São três aspectos essenciais para uma vida de qualidade.

Interessante resaltar que Elomar também acrescenta que o dinheiro nunca entra nesta lista. Ou seja, para o compositor, o dinheiro nunca poderá nos prover qualquer nível de “sacralidade”. Entretanto creio que este seja um assunto para tratarmos doravante, em um outro texto. Porém eu não poderia passar batido por este aspecto que salta aos nossos olhos na música.

Bom, temos então um pressuposto aqui estabelecido, que para uma vida de qualidade precisamos destes três aspectos: a virtude, o trabalho e a diversão. Podem parecer coisas bobas e descartáveis, todavia acredito que se estes dois homens, de contextos, histórias, pensamentos, vidas e filosofias diferentes, acreditavam que estes tinham uma suma importância, devemos, no mínimo, investigar para descobrir se há um fundo de verdade aqui. O qual eu acredito que exista, e espero mostra-lo para os senhores agora.

Gostaria de começar pelo aspecto mais “sacro” dos três: a virtude. Certa vez fiz uma série de artigos sobre cada uma das sete virtudes cristãs, e neles expus um brevíssimo resumo desta apolínea doutrina da história da Igreja. Então entendo que alguns puxem em seus imaginários estas sete virtudes quando eu cito esta palavra, mas quero neste momento pedir que os leitores expandam um pouco mais este horizonte de imaginação. Infelizmente o formato permite que eu os ajude pouco com esta tarefa, contudo vejo que com todo material disponibilizado na escola de conservadorismo, este ato seja concretamente possível para os que leem este artigo.

Não desejo que entendam aqui virtude como apenas uma doutrina cristã. Mas como qualquer atitude boa, santa, beata, altruísta e etc. Pois assim poderemos juntos chegar ao ponto que eu irei mostrar-lhes.

Para ilustrar a vós de uma maneira ainda mais clara, citarei uma frase de Ambrósio – grande homem da história do cristianismo, Santo da igreja católica e bispo de Milão. “O objetivo mais elevado da virtude é conseguir a maior medida possível de bem” Ambrósio, Bispo de Milão – Sobre o Arrependimento, Livro I, Seções 1-3.

Se entendermos então a virtude a partir deste conceito, veremos que sua importância em nossas vidas é sumária e indispensável!

E começaremos a compreender que ela é um aspecto essencial para uma vida de qualidade. Não por existir uma justiça cósmica, no sentido de que, se você praticar coisas boas, o mesmo voltará para o agente deste atos bondosos. Mas sim pelo motivo simples de: Deus ordenar.

Se Deus ordena algo para seu povo, podemos obedecer felizes por dois motivos: primeiro, pois obedecê-lo é bom para minha alma, espírito e destino eterno; e segundo porque suas ordenanças sempre serão para o incremento da qualidade de vida de Seu povo.

Creio então que esta questão da virtude esteja bastante clara, podemos prosseguir para o próximo ponto: o trabalho, ou a poesia ou a viôla.

Bom, se precisamos ser virtuosos para ter uma vida de qualidade, isso inclui o trabalho. Já que o próprio Deus disse: “Quem não trabalha que não coma” Segunda carta do apóstolo Paulo aos irmãos da igreja de Tessalônica, no capítulo três, versículo dez.

Mas acho que no mundo de hoje este seja um ponto já entendido. O problema é a confusão hierárquica que existe hoje. A virtude vem primeiro pois, sem ela o trabalho deixa de ser algo bom. Um trabalho que não é exercido de forma virtuosa não mais nos proporciona esta partícula de “sacralidade”.

De nada adianta sermos extremamente empenhados em nossa trabalho, e por isso exercer a negligência em nossos lares, com nossas famílias. De nada adianta, fazermos um “excelente” trabalho se de alguma forma passamos a perna em nossos companheiros, ou de qualquer maneira somos desonestos.

O juiz do bom trabalho é a virtude!

E então podemos ir agora para o último, a diversão. Este é o mais banalizado, o mais perigoso e o menos explorado corretamente.

A diversão, o lazer, a viôla, o vinho, são criações do próprio Deus para que o Homem desfrute de prazeres momentâneos aqui nesta terra. Para que nem tudo seja labor, suor e sofrimento.

A Bíblia nunca condenou o vinho nem a diversão. Mas condena veementemente a bebedice, o excesso, o deixar-se ser dominado por algo que nós deveríamos dominar.

Este é o ponto chave para entendermos a diversão – a viôla, ou o vinho – como aspecto essencial para uma vida de qualidade. A submissão, sujeição, total à virtude. Somente com este ponto claro, e concreto, é possível se ter a diversão da maneira que estou colocando para os senhores aqui.

E agora então, lançando mão de duas das sete virtudes cristãs: a temperança, e a prudência, eu digo para fazermos todas as coisas com temperança e prudência!

O vinho não é proibido, a diversão muito menos. Entretanto o deixar-se ser dominado por algo que nós deveríamos dominar; isso sim é amplamente, claramente e severamente condenado nas Escrituras Sagradas e em toda a Tradição Cristã.

Caros leitores, receio que tenha chegado o fim desta breve caminhada mental que tivemos. Acredito ter sido claro e abrangente o quanto o formato permite. Todavia gostaria de deixar um último pensamento prático, e que resume de forma simplória, contudo pragmática o que foi dito aqui: que tenhamos a virtude como comandante destes três aspectos essenciais para uma vida de qualidade. É ela quem faz com que as outras sejam virtuosas (boas), automaticamente fazendo com que cooperem para esse bem estar que falamos. Pois uma diversão, ou um trabalho, sem virtude terá o efeito contrário do que foi exposto aqui.

Fiquem com Deus e até a próxima.

 

Por Davi Eler

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