A supervalorização da Política

 

(Brasília – DF, 01/06/2017) Vista panorâmica do centro da Capital Federal do Brasil. Foto: Isac Nóbrega/PR

Tenho visto em todo conteúdo publicado na internet um aspecto curioso: a supervalorização da política. Sendo a internet um local onde você publica conteúdo e, em tempo real, pode acompanhar o consumo da informação por meio de ferramentas de métrica como ‘likes’ e ‘compartilhamentos’, pude notar que não há hoje, no Brasil, tema que faça frente à política. Pode ser a política mais rasteira do cotidiano de um estado da região Norte; uma notícia que a retrate, desbarata qualquer artigo de cultura produzido pelo maior autor e publicado no maior veículo de comunicação do país. 

Impressiona se olharmos para nosso passado de 20, 30 anos atrás. Lá (ou ali), o brasileiro não apenas desprezava a política como tinha nojo do político. Hoje, o trabalhador não apenas consome política como acompanha o político. No aspecto cidadão, esta é uma ótima notícia. Sob o ponto de vista do ganho para o País, é o atraso.

Atraso porque é justa e unicamente pelo fato de o Brasil ser um país onde tudo gira em torno do governo que, por aqui, é impossível falar de qualquer tema sem falar de Estado. Falamos de pesca, falamos do Estado; de bicicleta, Estado; alimentação, reflorestamento, brinquedos… o Estado é onipresente. E a única forma de retirarmos esse poder divino do Estado é reduzindo-o de tamanho. Mister, porém, que o povo não se apaixone por ele pois estamos justamente no momento em que ensaiamos a sua redução. Deus nos livre de estarmos vendo nascer um povo que daqui a alguns anos será o exército de defesa do pai-Estado, a nova geração dos adoradores do funcionalismo público – como foi a geração 90’s.

Que fique clara a distinção entre Estado e Pátria. Não é necessário frear o amor pelo País, quem há de encolher é a máquina pública.

Alguns pontos do governo Bolsonaro ainda não foram compreendidos; mea-culpa, confesso que fazer entender é papel também de quem comunica, talvez estejamos nós também, jornalistas, presos à ordem do dia e tenhamos abdicado do papel de leitura do panorama.

Dos tantos pontos que ainda não foram compreendidos temos desde a força motriz do voto #17 em outubro de 2018, como também o papel do Nacionalismo que se apresenta no horizonte para os próximos anos no Brasil. Não menos importante – e nebuloso – temos ainda o papel vital deste governo em reduzir o tamanho dos próximos governos.

Jair Bolsonaro já disse, por diversas vezes, que “precisamos tirar o Estado do cangote do brasileiro”. Precisamos falar sobre esse vazio que se apresenta. Sim! Vamos tirar o Estado e… colocar o quê no lugar? Ou alguém espera que ao tirar o Estado do meio-ambiente as seringueiras plantar-se-ão sozinhas?

É preciso falar sobre o plantio pois, quem hoje planta, amanhã não mais lançará a semente.

E assim é com todos os aspectos de nossa vida cotidiana, essa expressão que carrega em si um desprezo pelo que acontece sempre, pelo que faz parte da vida, pela rotina (argh!, palavra maldita). 

O brasileiro precisa urgentemente cair do cavalo e entender que “é duro chutar contra os aguilhões”. Não adianta perseguir o Estado como se ele fosse nossa salvação, como se ele fosse o agente que irá transformar o pagodeiro em musicista e o leitor de Caras em um tomista. Precisamos urgentemente, cada um de nós, firmar um compromisso com a vida intelectual e, assim, estudarmos o que nós faremos deste nosso país quando esse pai incompetente chamado Governo for embora.

Temos falado pouco sobre a pesca, a alimentação, a bicicleta e os brinquedos. Falado pouco e consumido menos ainda. Urge a volta de nossa atenção para tudo o que vai hoje dentro da Política mas, no futuro breve, estará periférico a ela. A médio prazo, queira Deus que esteja longe dela, e que a Política como profissão seja relegada a meia-dúzia de burocratas de plantão, burocratas estes que trabalharão sob os olhos vigilantes de um povo que os fiscaliza enquanto ensina o filho a andar de bicicleta ou pesca um Tucunaré.

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