Bolsonaro e o Art. 142

“Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro.” A famosa frase pronunciada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek tem notas proféticas em tempos de crise intelectual. Basta esperar e você se depara com idiotas dando com a cara na parede da realidade, dia sim e outro também.

O PSDB teve R$ 185 milhões de Fundo Eleitoral em 2018, mesmo assim seu presidenciável fechou o 1º turno com menos de 5% dos votos. Não foi por falta de aviso, todo mundo falou que a conversinha “vote em mim que eu pago metade do seu botijão de gás” não colava mais. Não acreditaram na voz do eleitor… deram com a cara na parede, a verdadeira “facista”.

Vencida a campanha presidencial, poucos meses bastaram para que parte do eleitorado de Jair Bolsonaro se decepcionasse. Não por ter ele deixado de adotar seu plano de governo prometido Brasil afora, muito menos por ter traído o eleitor e abandonado sua identidade. Decepcionaram-se alguns por terem acreditado na mentira da imprensa de que Bolsonaro era autoritário. Não foi por falta de aviso. Cara. Parede.

Hoje (6) o presidente da república fez uma breve participação no Simpósio Conservador de Ribeirão Preto, e em transmissão de vídeo afirmou:

“Tem gente que não consegue interpretar o que é o Art. 142, leia novamente o que é aquilo! Não é pra fazer o que alguns acham que tem de ser feito, Art. 142 é manutenção da lei e da ordem, não é para interferir em poderes. A Constituição Federal de 1988 é diferente das anteriores que davam mais poderes ao Poder Executivo. Um dos presidentes que tem menos poderes no mundo é o brasileiro, eu não posso fazer quase nada!”.

Eu espero que, finalmente, os intervencionistas entendam que o Presidente da República não quer interferir no Legislativo e/ou no Judiciário. Não quer e não pode.

Espero, mas não apostaria dinheiro nisso. Não apostaria porque em uma sociedade avessa ao conhecimento, impera o compromisso com o erro.

É o compromisso com o erro que leva pessoas a continuarem até hoje perguntando “cadê o Queiroz?”. Abandonam a honra mas não abandonam a ignorância.

A vergonha de se fazer parecer tão idiota ao ponto de acreditar que o Presidente da República colocaria todo o projeto eleito nas urnas em risco, apenas para defender um dos filhos em um caso que sequer foi formalizado judicialmente – e isso no país onde as instâncias são infinitas e quem tem dinheiro recorre ad eternum – é menor do que a vergonha de confessar “acreditei numa fakenews“. O compromisso com o erro faz novas vítimas dia após dia no Brasil.

Aos que se consideram grandes influencers, termino aqui com outra frase célebre de JK: “Sereis tanto mais influentes quanto mais fordes corretos e justos.”

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