Gustavo Corção e a certeza daquilo que não se vê

No livro “As descontinuidades da criação”, Gustavo Corção se dá ao trabalho de responder o tipo de indagação que tira do sério a maioria de nós: “qual a prova da existência de Deus?”. Com o admirável conhecimento teológico que esse autor possuia foi fácil fugir das armadilhas naturais dessa indagação juvenil. E o delicioso caminho percorrido por Corção pode ser encontrado na obra aqui citada.

Teólogo e escritor brasileiro, natural do Rio de Janeiro, Gustavo Corção é certamente um autor que merece ser conhecido pela maior quantidade de leitores possível. Figura entre alguns outros grandes pensadores brasileiros que estão sendo descobertos pelo público em geral com a mudança de rumo que tomou as redes sociais – hoje o maior veículo de troca de informações em todo o mundo.

Na primeira parte de sua obra, Corção fala sobre a característica probabilística da ciência, e citando Maxwell, Schrondinger, Fermat e tantos outros grandes homens da ciência, o autor nos leva a uma atualização constante do pensamento que irremediavelmente nos deságua em um mar do mais puro regozijo cristão: a certeza daquilo que não se vê, para citar a definição paulina.

A obra de Gustavo Corção não poderia ter trilhado outro caminho que não a imersão no mundo do conhecimento teológico, e essa imersão nos traz um resultado apaixonante de atentar não apenas aos anseios do coração mas também da mente humana, enquanto tateia por essa vida à procura de sinais de sua Origem. À semelhança de Schelling que, no início de sua primeira Carta filosófica sobre o dogmatismo e o criticismo, envergonha seu correspondente imaginário com a assertiva

“Eu o entendo, meu caro amigo. Parece-lhe mais grandioso lutar contra uma potência absoluta e sucumbir lutando, do que garantir-se previamente contra todo perigo, através de um Deus moral.”

Corção nos leva a ter vergonha de alguma (e qualquer) mínima dúvida da Criação.

Se é prova científica que o incréu anseia, Corção as dá em demasia mostrando que todo o conhecimento científico já produzido – do pré-socrático ao newtoniano – não conseguiu nada além de provar a impossibilidade de uma criação randômica, não desejada por um Ser. E é discursando não sobre a essência mas sobre a forma (Hegel), não sobre a unidade simples mas sobre a composta (Tomás de Aquino) ou sobre o ato ao invés da potência (Aristóteles), que Corção baila pelo universo da criação e, assim, descreve ao leitor a presença de YHWH na beleza da criação.

O filósofo alemão já citado escreveu que “[…]da existência de Deus, só é possível uma prova ontológica. Pois, se Deus é, ele só pode ser porque é”. E ainda “[…]a proposição ‘há um Deus’ é a mais indemonstrável, a mais infundada de todas as proposições, tão infundada quanto o princípio supremo do criticismo: ‘eu sou’ (Schelling, Carta filosófica sobre o dogmatismo e o criticismo, Sexta Carta).

Gustavo Corção consegue andar no fio da navalha e abençoar a todos nós com atualizações sobre a glória de Deus, isso sem cair na armadilha juvenil e improdutiva de tentar provar a existência de Deus.

Que esse grande brasileiro seja lido e relido neste novo ano que se inicia. Gustavo Corção é necessário nesse tempo de puro entretenimento e aversão ao conhecimento.

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