Acabou a Política, acabou o mundo

Temos visto atualmente uma série de notícias que dão conta de atos de violência “causados pelo clima de tensão política que tomou conta do país nos últimos anos”. Utilizo aqui as aspas porque atos de tamanha gravidade não podem ser analisados superficialmente e, de imediato destrinchados quanto a suas motivações diretas. Não sou perito forense e sequer policial, que eles dêem conta do que tem acontecido – e do que ainda está por vir. O que posso comentar tem relação com as causas, não dos atos específicos, mas dos gerais.

Ontem, em uma entrevista para um grupo de influencers evangélicos, o Presidente Jair Bolsonaro disse: “[…]com a minha idade, eu não tenho mais nada a fazer aqui na terra, se acabar essa minha passagem pela política”. Eis o diagnóstico não apenas da crise existencial do político em questão, mas da de todo um contingente de pessoas que tem vivido o futuro do país. Estão todos vivendo a aventura política como sendo a própria vida. Acreditaram na história da “luta do bem contra o mal”. Perdendo-se a luta eleitoral, acabou mundo.

O único acontecimento capaz de tirar a razão de viver de um ser humano é aquele que lhe tira o chão. Dentre aqueles que sofrem a perda de um filho ainda na infância, não é raro a desistência da própria vida. Se algum filho ainda lhe restou, agarram-se a eles como razão para não desistir da vida e continuar e superar o mal insuperável da morte prematura. Empresários que passam a vida inteira erguendo uma empresa e, em uma crise financeira vão à falência, são comumente vítimas do demônio que tenta o homem a pôr fim à própria vida. São tragédias não anunciadas, e que quando vêm levam o homem à lona pois tira-lhes o chão.

A política é o chão de muitas pessoas nesse mundo vazio do pós-guerra, um mundo em que o Estado se tornou um Leviatã omnipresente que a todo momento nos faz sentir seu peso titânico e, assim, convenceu a muitos que sendo impossível vencê-lo, o melhor é lhe ser servo. A esses maquiavélicos a tentação de ser parte do sistema se tornou uma empreitada pessoal. É o que aconteceu com tanta gente que há menos de uma década se declarava antissistema, e hoje é candidata a deputado.

Lembremos da alegoria do Mestre que instrui seus seguidores a não construir sobre base frágil, mas seguir a estratégia dos bons arquitetos que no mundo antigo procuravam uma rocha sólida para nela cavar a medida perfeita e, só depois, lançarem ali a pedra fundamental dando início à inabalável construção. Construir sobre a rocha é erguer motivo humano – pois toda construção humana é obra de homens –, porém de solidez divina pois as rochas não são nossas, mas patrimônios imóveis do Trabalhador do terceiro dia. É do mesmo Mestre (e não podia ser de outro, pois só há um cf. Mt 23.8) outro conselho que nos diz para não buscarmos objetivos nessa terra “onde a traça e a ferrugem tudo consomem”, mas vivermos em busca da permanência e não da temporalidade. São várias as instruções nesse sentido, todas elas convergindo para uma vida inteligente em que não se deposita esperança naquilo que não se pode controlar.

Enquanto vemos o número de atentados contra a vida crescer com a chegada das eleições, lembremo-nos de que não é apenas a política brasileira que é imoral; o governo desse mundo é loucura pois não passa de uma comunidade de ímpios escolhendo o mais ímpio dentre eles para liderar-lhes, todos envolvidos em um sistema de retroalimentação1. Que cada um de nós que ainda julga ter algum senso de realidade esteja envolvido naquilo que é indiscutivelmente perpétuo: o amor. Ao fim e ao cabo voltamos sempre às instruções daquele que conhece mente e coração: amemos a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Cuide de sua saúde mental e física, dedique-se a uma vida inteligente e proteja sua família.

“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais Ele fará.” – Sl 37.5

 


1 É de John S. Mill a leitura precisa “Quando o cargo mais alto do Estado precisa ser conferido por eleição popular a intervalos regulares de poucos anos, gasta-se todo o tempo intermediário praticamente em campanha eleitoral. Presidente, ministros, líderes de partidos, filiados, todos se tornam cabos eleitorais: a comunidade inteira se concentra nas meras personalidades dos políticos, e toda questão pública é discutida e decidida menos por seus méritos do que pela esperada influência que possa vir a ter sobre a eleição presidencial. Se se quisesse conceber expressamente um sistema para colocar o espírito partidário como princípio de ação em todos os assuntos públicos e criar um incentivo não só para converter todas as questões em questões partidárias, mas para levantar questões com a finalidade de fundar partidos sobre elas, seria difícil excogitar outro meio melhor para tal objetivo” – em Considerações sobre o governo representativo.

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