A Filosofia para o pensador cristão

A Filosofia é o ápice do exercício humano como ser intelectual, uma definição que vai de Agostinho a Kant, da Iluminação ao Iluminismo. O homem porém não é o ápice do ser, mas da criação, o que remete-nos a olhar para o alto de onde vem todo dom perfeito — e esse olhar é, no homem, um exercício que recebe o nome de Teologia.

Ao compreendermos a diferença de essência entre ambas as ciências entendemos porque Paulo, um filósofo poliglota que conhecia de Platão a Aristóteles, passando pelo epicurismo e estoicismo — além da poesia grega (cf. At 17.18, 28; 22.1-3; Tt 1.12) disse: “considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus”.

O homem sábio é aquele que entende o papel do Conhecimento e da Sabedoria, diferente do simples conhecedor que não necessariamente é sábio. Da mesma forma a Escritura nos mostra que “quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido” (I Co 1.15). Enquanto o conhecimento concede informação, sabedoria dá destreza de pensamento capacitando o homem a tomar decisões com base no correto manejo da informação, e ambas as luzes vem do Pai das luzes (Tg 1.17), como cantou o salmista:

“Não tem sabedoria aquele que dá ao homem o conhecimento?” — Sl 94.10

Sobre esse princípio indiscutível na Teoria do Conhecimento todo aquele que diz que conhece a Deus mas se espanta diante da Filosofia é um tolo, pois não conhece a Filosofia a qual o pasma, e nem conhece a Teologia pois se a conhecesse não se espantaria com tão pouco. É o que se passa com Cristo quando os apóstolos tentam espantá-lo com a grandiosidade do Templo de Jerusalém, mostraram ao Construtor do Universo as maravilhas do templo que ele mesmo havia planejado.

Jesus não se admira de tão admirável edificação, antes decreta a temporalidade palmar do que aos olhos dos apóstolos parecia ser uma santa edificação inabalável: “não ficará pedra sobre pedra”, complementando sua visão aparentemente pessimista com a clareza do Pai das Luzes ao revelar não apenas a terrealidade do Templo de Salomão, mas anunciar que o Templo do Espírito Santo não é deste mundo (Jo 8.23), e portanto não pode ser destruído em definitivo.

Nós, membros do Corpo de Cristo, temos de ter muito cuidado com a arquitetura desse mundo. Quando os cristãos passam a ver nos constructos humanos algo admirável, é porque este que vê não vê de dentro do Templo do Espírito, pois é impossível aos que estão na Cidade de Deus olharem para baixo e admirarem-se da Cidade dos Homens. Estejamos todos atentos para com o Corpo incorruptível de Cristo, e participantes deste mundo não naquilo que é obra humana mas divina, com o pasmo diante da manifestação do poder de Deus como nas palavras do poeta que disse:

“Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…”

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